#2 “Café Com Teu Pai” a Mais Nova Misoginia da Internet
E quando o homem decide falar sobre mulheres?
“Um homem que come todo mundo é considerado foda e a mulher que da pra todo mundo é considerada uma vagabunda por um motivo bem simples…”
Esse não é o café com o teu pai — mas pode bem ser o café com a tua mãe, não é segredo pra ninguém que o movimento redpill e o movimento misógino cresce todos os dias na internet disfarçando de ajuda e na maioria tendo comentários de mulheres apoiando esse tipo de fala.
Esse tipo de criador de conteúdo que diz está “ajudando” os homens a entenderem a cabeça feminina, na verdade estão apenas ensinando a odiar as mulheres. Não meus amores isso não é sobre evolução masculina, quando um homem precisa diminuir uma mulher para se sentir mais forte, ele não tá crescendo— está apenas se escondendo atrás de um microfone.
E não apenas com um conteúdo totalmente irrelevante e sem nexo vemos o fenômeno de garotas e mulheres que acabam apoiando discursos misóginos porque acreditam que serão “válidas” como diferentes das outras ou “melhores” que o resto. Isso só é um reflexo da cultura que mostra que mulher boa é aquele que agrada o homem, não aquela que se coloca contra ele e se posiciona.
Exemplos fortíssimos disso são as “influenciadoras” que viralizam falando mal de outras mulheres naquele tom de “sinceridade feminina”— que na pura verdade é só a mais pura reprodução do machismo.
Desde cedo meninas são ensinadas que “ser mulher demais” é um problema. Muito bonita? Provocante. Muito pé firme? Mandona. Muito independente? Ameaçadora. Roupa curta? Acessível.
Enquanto a internet vira ringue, são as mulheres que acabam lutando entre si numa guerra que nunca foi delas. A cada vídeo que viraliza com uma influenciadora dizendo que “mulher moderna perdeu o valor”, a cada comentário chamando feminismo de “frescura de mal amada”, o sistema dá risada.
Porque ele não precisa calar todas — só precisa que umas calem as outras. Enquanto isso, os homens que criam, lucram e espalham essas narrativas misóginas seguem ilesos, tratados como gênios da masculinidade, coaches da verdade, vítimas do “feminismo opressor”.
E nós? Aplaudindo ou atacando, mas sempre divididas. Eles criam o jogo, a gente briga pelo prêmio que nunca chega. Quando uma mulher chama a outra de “feminista chata”, ou “fácil demais”, ou “difícil demais”, ela não está sendo verdadeira.
Ela só está sendo útil ao patriarcado. É hora de sair do ringue. Porque enquanto a gente sangra pra provar quem é a mulher mais digna de respeito masculino, eles seguem assistindo de camarote — e, no fim, não respeitam nenhuma.
“Mulher pode desgraça a vida de um homem.”
E quando o Tribunal Superior da Catalunha anulou a condenação de estupro do jogador Daniel Alves por insuficiência de provas da vítima? Enquanto isso, o mesmo havia mudado seu depoimento ao menos quatro vezes, tentando adaptar seu discurso conforme as provas apareciam. Na primeira versão, ele disse que nunca tinha visto a vítima. Na segunda, afirmou que já a tinha visto, mas que nada aconteceu. Na terceira versão, disse que ela entrou no banheiro por vontade própria e que não houve relação sexual. E, por fim, na última versão, declarou que houve relação, mas que foi consensual.
O que isso tem haver com o “Café com o teu pai”?
E enquanto homens lucram se vendendo de machão e redpill, mulheres seguem sendo violentadas fora das câmeras. O caso de Daniel Alves é a prova mais cruel disso tudo.
Um homem famoso, rico, admirado, que achou que podia tudo. Que achou que a palavra dele bastaria. Que mudou a versão quatro vezes, mas continuou sendo defendido por gente que acha que “ela só queria fama”.
O que isso tem a ver com o que você consome online? Tudo. Porque cada vídeo dizendo que mulher que bebe “tá pedindo”, cada podcast dizendo que mulher independente “é arrogante”, cada postagem que transforma o “não” em “joguinho” — tudo isso é o combustível dessa cultura.
Uma cultura que fez com que a vítima de Daniel Alves não fosse acolhida como mulher. Mas questionada como inimiga. Enquanto isso, ele era o “craque”, o “ídolo”, o “pai de família”. A internet não ensina os homens a serem fortes. Ela só ensinou muitos a serem perigosos.
Eles criam a guerra, nos colocam como gladiadoras e ainda cobram que a gente sorria enquanto sangra. Esse ciclo fortalece o machismo e enfraquece a luta por igualdade. Enquanto mulheres se enfrentam em nome de uma aprovação que nunca vem de verdade, homens que promovem esse discurso seguem impunes, lucrando, crescendo, sendo tratados como “gênios”.
Com carinho, Lolita.
o café com teu pai é um dos perfis mais perigosos ultimamente, porque aquele cara vem com uma vibe de que tá ajudando as mulheres a sacarem como a cabeça dos caras funciona, e nisso ele normaliza UMA PÁ de situação problemática com qualquer piadinha e vaaaaarias mulheres ainda aplaudem nos comentários, como se realmente aquele conteúdo tivesse edificado elas. me da meio que vontade de morrer
Infelizmente quanto mais lutamos mais os homens conseguem encontrar maneiras de serem piores, nem sempre um homem mas sempre um homem